O país que visitei na minha última viagem tem-me feito pensar muito em como seria maravilhoso viver de forma simples , num lugar aberto, pleno de azul, abrigado das loucuras do mundo.
Esta reflexão foi acentuada com a visualização do último filme de Julia Roberts «Comer , Orar e Amar» onde , Ketut ,o sábio desdentado , nos oferece uma magnifica lição sobre o conceito de equilibro e simplicidade no viver.
Todos os dias imagino que bom que seria podermos conversar com as pessoas sem pressa, vivermos sob a égide do equilíbrio, e assumirmos o nosso próprio tempo sem a tensão e o peso dos compromissos formais , olharmos o céu, conversarmos com as estrelas,caminharmos nas ruas sem termos que nos desviar das pessoas frenéticas ,e principalmente acordarmos de manhã e descobrirmos, no coração, uma paz insuspeita e plena.
Eu já consegui viver maravilhosas experiências de equilíbrio e sabedoria. Cresci muito como ser humano, mas sei que ainda estou longe de cruzar completamente o implacável rio das insatisfações humanas, atingindo a outra margem da existência.
A Vida simples. Onde é que ela está? Em que esquina, em que país?
Mais do que isso: Onde, no nosso ser, habitará o espaço livre das dúvidas e incertezas.
É que a complexidade somos nós mesmos que criamos. Ela é inerente à inquietude do espírito humano ,mais do que isso , ela pertence à inquietude da faceta egoísta e diferenciadora da mente humana.
Houve um tempo em que eu imaginava que ter uma Vida simples correspondia a um acto de despojamento material, um abandono das vaidades e apegos, uma opção por menos responsabilidades e compromissos. Mas aos poucos, percebi que a simplicidade no viver radica em algo muito mais simples.
A simplicidade no viver habita o cerne das nossas escolhas, das nossas opções.
Obviamente que estou ciente que as nossas rotinas , os nossos vícios de hábito têm um papel extremo no modo como escolhemos. E é evidente que tais vícios determinam boa parte de nossa busca por uma verdadeira qualidade de vida. Contudo, justamente por isso é preciso apreender melhor o sentido de nossas escolhas, depurá-las e erradicar da nossa mente as decisões ignorantes.
Mas, quando chego a este ponto, começo a questionar-me se não estou novamente a complicar demais?
O facto é que é difícil no dia a dia fazer escolhas conscientes pois a Vida, sob todos os aspectos, é regida pelo império dos sentidos. Cada detalhe das nossas experiências está fundado em sensações, nesse manancial de estímulos que constrói todo o nosso universo pessoal de experiências.Não será exagerado afirmar que a Vida existe por força das sensações. Olhamos, cheiramos, tocamos, ouvimos, experimentamos. São estas a portas pelas quais a Vida penetra na mente e no coração, criando condições para que desejos, ambições ou conceitos determinem o grau de complexidade ou de simplicidade da nossa Vida..
Eis porque todos os seres, invariavelmente, são caçadores de sensações.
Vejamos: O que é que estimula mais a maior parte das pessoas do que o sucesso pessoal, profissional , material e o prazer inerente e inebriante de orgulho, sucesso, poder, beleza, gozo diante da Vida?
O problema é que a maior parte das pessoas confunde o sucesso com felicidade…
Mas não é bem assim.
Na verdade a maior parte das pessoas confunde a felicidade com a concretização do desejo de experimentar o sucesso nas relações pessoais , na profissão , riqueza material e no usufruir das melhores sensações. É precisamente esse erro que determina todo o complexo de insatisfação em que a maior parte das pessoas vive, apesar de irem vivenciando alguns momentos de êxtase e alegria nas suas Vidas.
Mas, então, quando é que a felicidade se traduz na tal Vida simples, se o próprio prazer de «simplesmente ser» fazer parte do inesgotável rol de de sensações?
Ainda não consigo responder com segurança a esta pergunta existencial , mas já adquiri maturidade interior suficiente para acreditar que a resposta está no equilíbrio entre aquilo que sentimos e o modo como escolhemos senti-lo.
Neste ponto aconselho todos a irem ver o filme «Comer ,Orar e Amar» onde de forma magistral o desdentado sábio indonésio Ketut ensina a personagem central do filme a optar sempre pelo equilíbrio entre o que o seu coração sente e a forma como optou viver após uma enriquecedora experiência espiritual num retiro na India.
O filme é uma verdadeira lição em como , apesar das perdas e tristezas, a despeito dos fracassos e desânimos, todas as nossas experiências emocionais são importantes e decisivas na forma como amadurecemos e gerimos as nossas expectativas e a nossa determinação para viver realmente com plenitude , coerência e sabedoria.
Contudo , a maior parte de nós desconhece que a maior fonte de bem estar e felicidade está na valorização consciente das mais sensações mais simples, e não daquelas mais elaboradas.
Ketut era simples mas feliz. Quando Julia Roberts lhe perguntou se não gostava de andar de avião ele respondeu com um sorriso gigantesco e com uma simplicidade feliz que não podia andar de avião «porque era desdentado».
A Vida simples apresenta-se como uma opção válida por contraponto à futilidade do mundo consumista em que vivemos em que a sociedade moderna valoriza excessivamente um ideal de sucesso distorcido , e em que poucas são as pessoas que compreendem que a realização pessoal é algo que vai além das experiências sensoriais imediatas, tremendamente excitantes, e definitivamente complexas de poder, beleza, fama e conquista social.
Pessoalmente tenho aprendido imenso com os erros e com os acertos na minha própria Vida, e procuro neles o elemento essencial da felicidade.
Enquanto procuro viver de acordo com este principio de aprendizagem permanente , vou logrando alcançar o ideal de viver livre e em paz comigo mesmo que hoje associo ao tal conceito de Vida simples.
Creio firmemente existir uma saída para a angústia e a miséria da alma humana, as quais contribuem para que tantas pessoas passem pela existência completamente iludidos pelas mais variadas formas de paixões, apegos, vícios e loucuras.
Considero que há como superar a premente necessidade de viver sob o peso das responsabilidades materiais, o medo da solidão, a preocupação com as contas, a valorização exagerada dos relatórios de trabalho ou a ascensão na empresa. Mais ainda, penso que existe um meio de se viver feliz, simplesmente.
Uma ilha paradisíaca , mar cristalino , temperaturas quentes , flores deslumbrantes , praias de areia branca…
Quantos de nós sonham com isso para o seu dia a dia? Muitos, com certeza.
Depois da minha última viagem eu ouso dizer que a maioria dos que sonham com a paz de uma vida materialmente simples num ambiente paradisíaco dificilmente aguentaria viver nesse ambiente despreocupado por muito tempo.
É a tal inquietude permanente nas nossas almas, e até mesmos mais sintonizados com o ideal de paz e serenidade sofrem com a insatisfação e com anseio pela excitação do mundo.
Então como alcançar uma Vida simples?
Volto a insistir que a resposta a esta pergunta não passa então por lograrmos ganhar o euromilhões e passarmos a viver numa ilha paradisíaca sem preocupações mundanas, mas antes por sabermos entender as nossas escolhas de forma realmente profunda, sábia e sem conflitos.
É a mente portanto que abriga a chave de nossa felicidade. E é a mente que nos pode conduzir à compreensão suave e simples das circunstâncias que regem o nosso quotidiano como ensinava o desdentado Ketut em «Comer ,Orar e Amar» .
Ketut sabia e eu também sei que o mais valioso dom da simplicidade habita no nosso coração, e que será através das nossa próprias superações pessoais que ele será realizado.
A busca de uma Vida simples é uma cura. E através desta cura, saberemos compreender o mundo de uma maneira tão universal e completa que, finalmente, atingiremos o ponto de equilíbrio, o centro da roda sempre implacável da existência, que gira incessantemente para todos os seres e coisas do Universo.
Não há simplicidade mais completa além daquela que se realiza e concretiza na felicidade do coração.
Essa foi a maior mensagem de Ketut em «Comer , Orar e Amar».
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